Modos de Apagar

Modos de Apagar
Ways of Erasing
2018
Díptico | Diptych
Fotomontagem | 
Photomontage

Imagens do primeiro plano | Foreground images:Monumento Mãe Preta / imagem das artistas
Mãe Preta Monument / image by the artists
Imagens de fundo | Background images:Mike Peel www.mikepeel.com / Wikimedia Commons
Planta Geral da Cidade de São Paulo, 1905
General plan of the City of São Paulo, 1905

e recortes de jornais da imprensa negra de São Paulo, 1924-1954
and newspaper articles from the Black press in São Paulo, 1924-1954
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional | National Library Digital Archives

Em São Paulo, pesquisamos a história do monumento Mãe Preta, erguido em 1953 no Largo do Paissandu. Desde o colapso do edifício Wilton Paes, no mesmo largo, em maio de 2018, alojam-se ao redor do monumento dezenas de desabrigados, compondo um cenário distópico e desolador – que revela uma desigualdade extrema, em relação à habitação, na cidade mais rica do país. O monumento configura um marco urbano importante na memorialização da escravidão; juntamente com o monumento Zumbi, erguido na Praça Antônio Prado em 2016, mostra uma tentativa de reinserir as memórias negras na região central da cidade, apesar do apagamento lento e sistemático que aconteceu ao longo de sua história moderna.

O monumento foi construído em 1953, de autoria do escultor Julio Guerra, seguindo uma demanda do movimento negro da época à prefeitura para a realização de um monumento dedicado à figura simbólica da Mãe Preta como uma forma de reconhecer a atuação da raça negra na formação do país. A ideia já tinha sido sugerida em 1924 por diversos atores da mobilização negra na cidade, em particular a redação do jornal O Clarim d'Alvorada que sugeriu não só a construção do monumento mas também o estabelecimento do Dia da Mãe Preta a ser celebrado todo dia 28 de setembro em comemoração à Lei do Ventre Livre, promulgada em 28 de setembro de 1871. A lei determinava que todo filho nascido de mãe escravizada nascesse liberto, com a provisão de que poderia ficar sob a guarda provisória do senhor da mãe até os 8 anos de idade. A ideia foi aventada até 1930, ano em que a eleição de Getúlio Vargas botou o projeto em pausa devido à desmobilização política negra e o advento das ideias de democracia racial. A ideia ressurgiu no fim dos anos 40 em que foi convocado um concurso de propostas, esta vencida por Julio Guerra que realizou a commissão do monumento erguido em 1953. Na exposição pode-se acompanhar todo o trajeto desta polêmica através de recortes de jornal que contam a trajetória da ideia. Em um trabalho fotográfico, o monumento aparece de frente e de costas tendo ao fundo a paisagem distópica deixada pelos escombros do edificio Wilton Paes ao fundo, e também um mapa da cidade do início do século mostrando alguns marcos da cidade que não existem mais.