Educativo

Proposta educativa

Desde o início, concebemos o espaço expositivo e a proposta artística não somente num espaço de fruição estética mas definitivamente como um espaço de formação cidadã, trocas de narrativas e subjetividades. Isso foi testado na primeira montagem em 2016, quando reformulamos a biblioteca do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, inserindo um mural permanente das Heroínas Negras e títulos infantis com protagonistas negras.

No entanto, este conceito pode realmente ser ampliado e executado com mais inventividade nas montagens relacionadas ao prêmio da FUNARTE em 2018/19. Em ambas montagens, em SP e SLZ, a exposição acabou virando um ponto de encontro e de reflexões sobre as principais temáticas levantadas e investigadas pelos trabalhos. Para a seleção da equipe do educativo e estruturação das atividades selecionamos equipes com principalmente mulheres negras e estudantes que, de alguma forma, se relacionassem com a temática central do projeto potencializando a experiência da exposição tanto para o público quanto para a própria equipe, com o objetivo central de se criar um espaço de reflexão e debate.

Uma expografia pedagógica

A expografia das exposições de São Paulo e São Luiz do Maranhão em 2018/19 foi pensada como um caminhar entre perspectivas históricas (mesas com arquivos, impressos, jornais) e imagens de acervos com interferências visando mudar perspectivas e ressaltar o protagonismo da mulher negra e seus apagamentos históricos, além de trabalhos realizados na atualidade em colaboração com mães e ativistas negras apresentando suas narrativas de superação, solidariedade e protagonismo, como as obras “Modos de Fala e Escuta” (videoinstalação com 7 mães negras) e “Modos de Encantar” (video e série de fotografias realizadas com lideranças femininas e parteiras do Quilombo Santa Rosa dos Pretos, no Maranhão).

A expografia da exposição foi pensada a partir da idéia de encruzilhada, como um espaço de encontros, que convergia para uma grande mesa baixa e redonda com banquinhos móveis que abrigava a Mini Biblioteca Mãe Preta, com livros de autores e intelectuais negrxs e diversos títulos infantis com protagonistas negros que foram doados pelas editoras Pallas, Peirópolis, Olhares, Evoluir e Africanidades. A partir da mesa, instalada no espaço central do Galpão Funarte SP, foram traçados 4 eixos que permitiam uma deriva entre os trabalhos, espaços de memória e mesas com arquivos e trabalhos focados no contemporâneo.

Nesta mesa, reuniam-se em torno dos livros pais e filhos, pesquisadores, educadores e alunos de escolas para aulas públicas, artesãs e público em geral. Ao redor desta mesa foram realizadas leituras públicas, pequenos debates, oficinas de bonecas Abayomi, grupos de estudo, além de encontros espontâneos entre visitantes no decorrer das exposições.

Todo o mobiliário construído para a expografia foi doado, após a finalização da itinerância, para 2 espaços independentes geridos por artistas na cidade de São Luís do Maranhão: CHÃO SLZ (que abrigou a itinerância da exposição) e a Galeria Trapiche.

A Biblioteca Mãe Preta

Acreditamos que a literatura, o conhecimento e a formação cidadã são os pilares para a transformação destas narrativas de violência e opressão. Por isso, desde as primeiras conversas concebemos uma biblioteca como eixo das montagens. A biblioteca, com cerca de 45 títulos, ocupou o eixo central da exposição sobre uma mesa redonda, com bancos móveis, concebida como um ponto de encontro, silêncio e leitura. Os livros foram doados por editoras e diversas instituições com títulos escritos por mulheres negras e livros onde mulheres e meninas negras são protagonistas. Há também literatura de apoio para os títulos acima, assim como livros de arte e fotografia relacionados ás temáticas da exposição.

Todos os livros que formaram a Biblioteca Mãe Preta foram doados para as lideranças femininas do Quilombo Santa Rosa dos Pretos no Maranhão, onde fizemos uma residência de pesquisa em 2018 que resultou em novas obras na exposição. Os livros irão integrar um projeto de biblioteca na escola da comunidade, em uma “ação artístico-pedagógica quilombola”, projeto em fase de implantação pela líder e ativista Zica Pires Silva. Ver a obra Biblioteca Mãe Preta

A minha heroína negra

O Mural das Heroínas Negras é uma instalação com retratos de vinte e duas mulheres, entre centenas heroínas negras na história brasileira. As heroínas simbolizam a presença fundamental da mulher negra na formação histórica do país, frequentemente negligenciada nos livros de história. Fichas com biografias de cada heroína do mural encontram-se abaixo dos retratos. O Mural das Heroínas foi inspirado pela coleção de cordéis sobre heroínas negras da autora e cordelista Jarid Arraes, grande inspiradora desta instalação. Ver a obra Mural das Heroínas

Abaixo do Mural das Heroínas Negras, um lote de fichas em branco permite ao visitante nomear e escrever a biografia de sua própria heroína negra. Tal atividade foi desenvolvida pelas artistas e mediadas equipe do educativo nas montagens em São Paulo e São Luiz com públicos de diversas idades e posteriormente arquivadas. Alunos de escolas que visitaram a exposição também levaram este material para as salas de aulas, e foram estimulados por seus professores a escrever sobre as heroínas negras de suas vidas.

Equipes Educativas

Equipe educativa - FUNARTE/São Paulo
Da esq. para dir.: Mayara Soares, Mariana Rodrigues Coiro, Ana Paula Lopes (Coordenadora), Laís Cavalcanti.

Todos os trabalhos foram apresentados e discutidos com as equipes do Educativo e a partir da inauguração das exposições, estas passaram a ser não apenas as “guardiãs” da exposição, mas ativadoras dos espaço expositivo, propondo atividades, debates e ocupações. Também organizamos no dia do lançamento do catálogo a Oficina de Cordel e Escrita Criativa com Jarid Arraes, da qual participaram 12 pessoas. Jarid Arraes é a autora do livro que inspirou a série Mural das Heroínas Negras, por esse motivo sua presença no projeto foi muito especial e importante.

No decorrer da exposição, o educativo criou o @Observatório_1058, um grupo de estudos, práticas educativas, pesquisas culturais e artístico-políticas, com a idéia de divulgar as atividades relacionadas ao educativo da exposição e expandir o alcance dos objetivos citados acima. Criaram um perfil no Instagram para divulgação das ações educativas ao longo do período expositivo.

Resumo das atividades realizadas:

Além das visitas mediadas, foram realizadas outras ações de ativação da exposição Mãe Preta, em diálogos com projetos culturais que abordavam as mesmas temáticas do projeto, protagonizados por mulheres negras:

- Ações com o grupo“Agô Performances Negras”;
- Intervenção com lambe-lambe da artista Thayane Athanásio na parede externa da Funarte;
- Oficinas de Produção das bonecas Abayomi, realizadas semanalmente na exposição.

Ao longo dos 45 dias de exposição, diversas visitas com escolas foram agendadas por meio do programa “Mais Educação” atendendo a um público de cerca de 500 alunos do ensino fundamental entre 2 e 11 anos de escolas da rede pública da cidade de São Paulo.

Equipe educativa - Espaço Chão SLZ/São Luiz - 2018/19

Na foto: Elaine Mesquita, Wgercilene Martins e Carlos Silveira.

A itinerância para o Maranhão aconteceu em parceria com o CHÃO SLZ, localizado no centro histórico de São Luis, coordenado por Samantha Moreira, Dinho Araújo e Camila Grimaldi e que abrigava também os projetos parceiros Cadê Beltrano e Cozinha Ancestral. O CHÃO SLZ é um espaço gerido por artistas com importante e destacada atividade na cena de arte do Maranhão.

A equipe do educativo da exposição em SLZ foi selecionada pela própria equipe do Chão e foi formada por 3 integrantes, todos estudantes de universidades em São Luis, em cursos que dialogavam com as temáticas abordadas pela exposição: Elaine Mesquita, Wgercilene Martins e Carlos Silveira. Assim como em São Paulo, além das mediações das visitas espontâneas, a exposição recebeu grupos agendados, assim como desenvolveu um calendário de atividades diverso, propondo vivências e experiências que dialogassem e potencializassem as propostas da exposição Mãe Preta.

A equipe do educativo assumiu uma postura protagonista em relação a exposição, propondo ações e vivências, potencializando de um forma muito significativa a relação da mostra em si com a cidade, com espaço e com as vidas que ali cruzaram.

Resumo das atividades realizadas:

- Visita Guiada e Roda de Conversa com as artistas Patricia Gouvêa e Isabel Löfgren, a antropóloga Martina Ahlert, a fotógrafa maranhense Sunshine Santos e as lideranças femininas e quilombolas Dona Dalva, Dona Anacleta e Zica Pires do quilombo Santa Rosa dos Pretos, importantes colaboradoras da exposição;
- Intervenção culinária do restaurante Cozinha Ancestral, restaurante residente no mesmo espaço da exposição, com cardápio inspirado no legado histórico da diáspora africana no Maranhão para a abertura da exposição e durante toda a sua duração;
- Visita mediada com os alunos da UNITI - Universidade Integrada da Terceira Idade, de Paço do Lumiar;
- Oficina de Boneca Abayomi;
- Bate papo a cantora Rita Ribeiro, o fotógrafo Márcio Vasconcelos e as quebradeiras de coco babaçu. Um momento de muito afetividade, resistência e amor. O encontro foi uma parceria entre MIQCB (movimento interestadual das quebradeiras de coco); Cozinha Ancestral e Chão SLZ;
- Encontro proposto por Tieta Macau, para conversar/dançar suas experiências e criações. Uma conversa sobre rastro, uma conversa em processo. Um encontro sobre processos e criações afro-orientadas. Tieta Macau é dançarina e performer graduada em Teatro pela UFMA, pesquisadora independente de danças e poéticas afro-brasileiras. Atua em colaboração com o Grupo Afrôs, o Grupo Laborarte e o Coletivo DiBando;
- Oficina Vivência com Turbantes.

A equipe educativa da FUNARTE formou o coletivo @Observatorio1058 com um canal no Instagram.

Colaborações educativas e acadêmicas